Futebol Feminino

A primeira árbitra do mundo a fazer história é brasileira

A primeira árbitra do mundo a fazer história é brasileira

Quando os tempos eram outros, ainda em 1967, Léa Campos se formou em educação física, jornalismo e se tornou árbitra profissional em Minas Gerais

Para que nós, mulheres, tivéssemos os direitos civis assegurados hoje e para que jogássemos futebol do jeito que queremos atualmente, outras vieram antes de nós, abrindo caminhos e construindo pontes contra o preconceito e a desigualdade.

Uma dessas precursoras para a democratização do futebol feminino é a mineira Léa Campos, atualmente com 75 anos e moradora de Nova Iorque, nos Estados Unidos.

Nascida em Abaeté, no interior de Minas Gerais, Asaléa de Campos Fornero Medina é reconhecida pela FIFA como a primeira mulher a se tornar árbitra profissional no mundo, em um tempo onde as mulheres eram proibidas por lei de jogarem futebol, com a justificativa do esporte ser “incompatível com as condições de sua natureza”.

Jornalista por formação, Léa Campos se apaixonou pelo futebol ao se tornar relações públicas do Cruzeiro, em Belo Horizonte. Começou a viajar com o time, divulgar projetos do clube e ser a porta voz cruzeirense no contato com a mídia e com a torcida, a partir daí, mergulhou no universo dos gramados e não parou mais.

Em 1967, Léa se formou árbitra pela Federação Mineira de Futebol, onde estudou por oito meses. Na hora de receber seu diploma e a validação na profissão, foi proibida pela Confederação Brasileira de Desportos (CBD), que seguia o decreto-lei nº 3.199, em seu art. 54, de 1941, que dispunha que “às mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.

Mas a árbitra encontrou uma brecha na lei, que proibia mulheres de praticarem o esporte e não de trabalharem com ele. Com esse argumento, ela foi regulamentada pelo Conselho Nacional de Desportos (CND), entidade que se tornaria a CBF, que permitiu Léa de trabalhar sem nenhum obstáculo.

Futebol X Ditadura

Por enfrentar a lei e não se limitar à proibição de mulheres se envolverem com o futebol, Léa foi acusada de subversão durante a Ditadura Militar no Brasil.

Nos cálculos dela, foram 15 as vezes que foi detida e encaminhada ao Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) para “dar explicações”.

“Fui presa várias vezes por causa do futebol feminino. Levavam-me para o DOPS, diziam que eu estava fazendo terrorismo, subversão. E tinha de me explicar dizendo que o que fazia era apenas uma forma de distração. Nunca obriguei ninguém a nada, vai quem quer, só o que queríamos era jogar futebol. De tanto ir à delegacia, acabei até ficando amiga do delegado. Acabava ficando 10, 15 minutos lá, e ele me liberava. Apesar disso, nunca fiquei registrada como terrorista, minha ficha sempre foi limpa”, contou Léa para entrevista ao Globo Esporte.

A redenção da pioneira veio em 1971, quando foi convidada pela FIFA para apitar um torneio mundial de futebol feminino amistoso, realizado pela entidade no México.

Com o feito, a árbitra ganhou muito destaque nos continentes americano e europeu e surgiram muitas oportunidades no futebol profissional, por ser a primeira mulher a apitar uma competição internacional.

Carreira precocemente interrompida

Apenas 3 anos depois de apitar o mundial no México, Léa Campos teve sua carreira precocemente interrompida depois de sofrer um grave acidente de ônibus.

Ela teve suas pernas presas nas ferragens e ficou anos em uma cadeira de rodas. Quase perdeu a sua perna esquerda, teve de reimplantá-la e realizar uma série de cirurgias. Ao total, foram 101 procedimentos.

Enquanto se recuperava do acidente, a árbitra viajou algumas vezes para os Estados Unidos para fazer exames e tratamentos. Foi lá que conheceu seu marido, o jornalista esportivo colombiano Luis Eduardo Medina, com quem se mudou para Nova Iorque e vive até hoje.

Dificuldades na pandemia

Com a crise mundial ocasionado pela pandemia do coronavírus, o marido de Léa, Luis Eduardo Medina, que enfrenta um câncer de próstata, perdeu o emprego que sustentava o casal.

Impossibilitada de trabalhar por conta da saúde debilitada e com o companheiro desempregado e doente, a árbitra foi despejada de sua casa nos Estados Unidos e atualmente mora na casa de amigos. Integrantes dos quadros masculino e feminino, além de instrutores e dirigentes do Apito Nacional, estão unidos numa campanha para arrecadar fundos com o intuito de ajudar Léa Campos. Nomes como Leonardo Gaciba, Ana Paula Oliveira, Raphael Claus e Edina Alves Batista estão engajados para auxiliar a sempre pioneira na arbitragem feminina no futebol profissional.

Posso ajudar?